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Setor metalúrgico: melhora, retomada ou crescimento?

O recente aumento nos preços ao setor metalúrgico tem motivado grande parte dos industriais em todo o mundo. A conjuntura associada ao COVID-19, com a consequente perturbação de todas as economias colocou em xeque as certezas com as quais se entendiam as atividades produtivas e os mercados nas quais são inseridas, expresso, por exemplo, nas mudanças nas políticas comerciais dos países.

Os índices de preços dos aços no Brasil publicados pela Infomet traçam um quadro de queda no período entre 2010 e início de 2019, comportamento este que se reverte a partir deste ano, com vertiginosa elevação das cotações a partir de meados de 2020 até o presente. Pondera-se, portanto um cenário de retomada favorável e oportunidade ao setor metalúrgico. No caso de produtos não ferrosos como alumínio, cobre e o níquel o comportamento acompanhou o mercado aquecido, porém apresentando estabilidade, à exceção do zinco registrando queda em 2021.

 

A crescente indagação da responsabilidade por tal bonança tem recaído sobre como o mercado se comportou durante 2020. Os efeitos da pandemia foram notórios em todos os setores consumidores durante os primeiros meses. Com a relativa retomada de atividades no segundo semestre e o aumento do consumo, a hipótese de demanda reprimida veio à tona. A própria dinâmica dos preços internacionais do aço aquecidos sugere isso, porém, também neste mercado, as cotações têm apresentado uma faceta de recuperação onde os valores de 2021 são próximos ao de 2018, e cuja variabilidade é menor.

 

A tendencia estatística é de crescimento, uma posterior queda com manutenção de uma média mais alta em relação ao passado. No entanto, outros fatores devem ser destacados, adjacentes à recuperação da pandemia: na interação do mercado externo, os preços de exportação se tornaram atrativos para o aço; relativa recuperação do PIB; e queda da produção brasileira do metal.

 

O fator oferta tem ponto chave em todo o panorama de cotações favoráveis. As especificidades produtivas do complexo produtivo impactaram na oferta, altamente dependente da dinâmica setorial, particularmente do fluxo oriundo das siderúrgicas que foi comprometido diante da interrupção abrupta durante os primeiros meses da pandemia, aliado aos custos de reiniciar operação dos fornos que tornaram o fornecimento problemático às metalúrgicas, levando inclusive os estoques já estabelecidos ao nível crítico. De forma semelhante, as siderúrgicas têm estado em face com a crescente exportação de ferro e do minério de ferro comprometendo as disponibilidades internas de insumos.

 

O minério de ferro tem apresentado bons preços no mercado internacional, também com valores retornado a patamares passados (2012), porém com a possível queda aliviando a estrutura de custos setorial. Estes devem ser tratados de forma séria para fazer frente a alguns gêneros de aço importado com preços em queda.

 

De certa maneira, o otimismo do setor metalúrgico em fins de 2019 foi corroborado. Em 2020 a indústria de transformação teve saldo positivo de exportações, mas com elevada importação de aço bruto como resultado de queda de produção e demanda interna. Esta última tem correlação positiva com o Auxílio Emergencial, conforme relatado por lojistas, e explicado pelo efeito multiplicador do maior nível de consumo em todos os setores. adicionalmente dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP) a utilização média da capacidade de operação da construção civil em 2020 estão com valores próximas dos presentes entre 2012-14, quando a economia estava crescendo. Em pesquisa publicada pela Confederação nacional da Industria (CNI), o setor metalúrgico apresenta-se com o maior nível de confiança, e com expressivo nível na construção civil. Os preços de exportação, taxa de cambio e a gestão Biden acrescem à demanda de aço e alumínio. Contudo, ao observar a demanda agregada da economia, os números positivos alcançados pelo PIB nos últimos trimestres do ano passado, quando comparados em relação ao mesmo período de 2019, mostram-se com valores negativos, ou seja, uma demanda da economia brasileira ainda em recuperação, o que repercute, em alguns órgãos especializados, em uma demanda com crescimento moderado ou ligeiramente negativo, reforçados com as novas restrições impostas pela pandemia em 2021.

 

O cenário de demanda é alicerçado pela sensibilidade e consciência que consumo tem do que ocorre em todo o complexo produtivo, lojas, metalúrgicas e siderurgia. Os orçamentos que as Metalúrgicas fazem aos lojistas, com prazo curto e as entregas de pedidos com prazo longos podem formatar uma manutenção da pressão dos preços por parte do consumo. A incerteza quando ao investimento e número de implantações na metalurgia se calca na multiplicidade de pesquisas e fatos, hora apontando mais, hora apontando menos. As contratações de empregados e produção possuem tendencia de ligeiro aumento segundo dados da Infomet atualizados até março. Os problemas estruturais históricos do Brasil generalizado, com insuficiência da oferta são contundentes, os custos com tendencia crescente impulsionam os preços para cima, de forma repetitiva. Há um limite para preços elevados, limite este estipulado pelo consumidor, e se associado a custos elevados pode causar sérios prejuízos ao setor.

 

 

O atual panorama se explica pela atuação de oferta e demanda em conjunto o que delineia no curto prazo uma oportunidade de ganhos que deve suprir necessidades: a melhora competitiva nos custos e processos e um planejamento de toda a cadeia produtiva provisionada, ao menos por uma atenção estatal estrategicamente isenta.

 

*Doutorando em Economia pela USP e Professor da Universidade Metodista de Piracicaba. Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (2008) e mestrado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (2014). Trabalhou como consultor em pesquisa para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) dentro da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – (2009).

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