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Eu tenho um sonho

Sonhei hoje com um país lindo. Todas as crianças nasciam e cresciam com as mesmas oportunidades. Todas tinham direito ao mesmo alto nível de escolaridade, saúde de ponta e viviam em segurança. Os pais eram responsáveis e as educavam com amor. A partir deste contexto poderíamos começar a falar em meritocracia. Na sociedade em que vivemos não.

Quando vejo jovens procurando latinhas de alumínio ou crianças pedindo dinheiro no farol para sustentar suas famílias, indago: e se esse indivíduo tivesse as mesmas oportunidades que um adolescente com acesso a cursinhos, escolas particulares e aulas de inglês? O futuro dele certamente não seria diferente? Quem pode dizer que não seria ele um ganhador de Prêmio Nobel, descobridor de curas para doenças ou novas tecnologias? Neste contexto em que está inserido, o que podemos esperar? Se for realmente o gênio que imagino, ele pode facilmente ser influenciado pelo mal caminho e usar sua inteligência para outros meios menos construtivos.

Por favor, não me venham com casos isolados do filho da faxineira que virou médico ou do cortador de cana que superou obstáculos e se formou em direito. Não, não é impossível. Mas são exceções. Qual a porcentagem de casos em que isso acontece? O que estou dizendo é que estamos desperdiçando talentos. Aquele rapaz servindo mesas no bar poderia, além de trabalhar, estar estudando e desenvolvendo máquinas que desempenhariam esta mesma função mais rápido e eficientemente, talvez.

Há também a questão da justiça. O filho do juiz teve que se esforçar tanto quanto o filho da faxineira para virar médico? É certo que haja tamanha diferença de obstáculos no caminho dos dois indivíduos para alcançar o sucesso e conquistar sonhos?

Como poderíamos guiar nossas crianças pelo caminho do bem, do desenvolvimento e da evolução?  Quem é responsável por essa tremenda desigualdade que dá muito a poucos e nada a muitos? Não sei se é por ser empresário, mas sempre ouço que “a culpa” é do patrão. Nós empregadores somos geradores de emprego e renda. O problema é que essa renda não fica toda no bolso do trabalhador. Grande parte vai para os cofres públicos em forma de impostos. Aqui estamos falando somente da parte trabalhista, mas devemos considerar todas as taxas que recolhemos como pessoa jurídica e física.

Pois bem, recolhemos impostos e o que deveríamos esperar? Que eles fossem revertidos adequadamente para todos cidadãos em forma de escolas, saúde e segurança. Assim, todas as crianças teriam os mesmos direitos e oportunidades. Parece simples, não? E é! Qual está sendo o problema? Por que não está funcionando? O que nós, a população, podemos fazer para esse trem entrar no eixo e o sistema começar a andar?

A chave está na vigilância constante. Quando pago por um produto, sei para onde meu dinheiro está indo. E os impostos? Eu não sei exatamente no que estão sendo revertidos. Se em postos de saúde, cadeiras de escola ou, infelizmente, para a corrupção. Precisamos fiscalizar, estar atentos às transparências dos órgãos públicos. Somos contentados com pouco. A memória não pode ser fraca, não podemos deixar que uma Copa do Mundo nos faça esquecer os escândalos políticos ou, o mais importante, a eleição. Temos que mudar o conceito de que aceitamos a política do pão e circo. É importante lembrar que o governo nunca nos “dá” nada. Somos nós que pagamos e cabe a nós fazermos com que esse dinheiro seja empregado da melhor maneira possível. Acredito que conseguiremos. Tenho fé nas futuras gerações e em sua capacidade de transformação.  Meu sonho um dia será realidade.

 

Euclides Baraldi Libardi é diretor-executivo do Simespi 

 

 

Foto: Freepik

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