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SAÚDE MENTAL PÓS-PANDEMIA E O IMPACTO NAS ORGANIZAÇÕES

Por Vivian Roncon Lanzoni Menichetti

 

Quem cuida da mente cuida da vida, e isso tem de ser lembrado, pois tudo começa na mente. O fato de não estarmos bem emocionalmente afeta nosso cotidiano e nossa capacidade de tomar decisões. A saúde é integral, não há uma divisão: é importante estar bem física, mental e espiritualmente.

 

Diariamente, vivenciamos uma série de emoções, boas ou ruins, mas que fazem parte da nossa vida: alegria, felicidade, tristeza, frustação, raiva, entre outras… Como lidamos com essas emoções é o que determina como está a qualidade da nossa saúde mental.

 

Com a pandemia, o ano de 2020 foi quando mais se falou em saúde mental e muito se debateu sobre transtornos mentais, porém é importante diferenciar saúde mental de transtorno mental. Saúde mental está relacionada ao equilíbrio emocional, qualidade de vida e bem-estar. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o conceito consiste em um estado no qual o indivíduo consegue lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar com produtividade e é apto a contribuir para a sociedade. O transtorno mental é ausência da saúde mental, ou seja, o desequilíbrio emocional facilita o surgimento de doenças mentais (ansiedade, depressão, transtorno bipolar, entre outros).

 

O “tabu” relacionado ao tema ainda é bastante presente na sociedade, pois a forma como as instituições de tratamento cuidavam, antigamente, dos pacientes com transtornos mentais — como se fossem “loucos” —, ainda nos afeta e faz com que a gente negue ajuda e ignore os sintomas.

 

Como a saúde mental está no corpo e no meio, muitas vezes é concebida como uma fraqueza da pessoa, algo sobre o qual ela teria condições de atuar e não o faz. Porém, o momento da pandemia foi de uma enorme oportunidade de aumentar a conscientização em relação ao tema.

 

Pessoas tinham dificuldades emocionais antes da pandemia, mas não davam o devido valor ou não conseguiam enxergar esse problema. Quando veio o confinamento, bastante coisa mudou, afinal a possibilidade de praticar atividades diversas que mascaravam essas questões ficou mais rara. A partir de então, os conflitos começam a aparecer, tanto internos quanto intrafamiliares. Além dessa demanda reprimida, outros transtornos foram causados pela pandemia em si, como: dificuldades de adaptação ao novo momento, medo da morte, ansiedade pelo isolamento. Algumas pessoas que tinham um contexto de vida definido foram forçadas a mudanças radicais. E a facilidade de adaptação está diretamente ligada à nossa saúde, ou seja, caso exista um transtorno mental, de qualquer ordem, não tratado, aumentam as dificuldades de se adaptar e, consequentemente, o sofrimento.

 

Ocorreu que a pandemia nos equalizou. Eu posso estar sofrendo de um transtorno mental, mas meu melhor amigo, meu irmão, meu pai ou minha mãe, meu chefe também. Aos poucos, começamos a entender que as doenças mentais fazem parte das nossas vidas, são mais frequentes do que imaginávamos. O quanto antes admitirmos e enfrentarmos isso, mais rapidamente voltaremos a entrar no eixo e a nos sentirmos melhores.

 

Hoje em mundo pós pandêmico, podemos observar o aumento da ansiedade e depressão. O impacto emocional das perdas familiares, o sentimento de medo, a falta de socialização e a instabilidade no trabalho aumentaram o nível de estresse e sofrimento psíquico das pessoas. Estamos vivendo uma segunda pandemia, só que na Saúde Mental.

 

Diante desse cenário, cada vez mais as empresas se preocupam com o bem-estar dos seus funcionários, uma vez que o trabalho pode estar intimamente ligado ao surgimento de transtornos mentais, a começar pela síndrome de burnout (Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho).

 

Uma equipe mentalmente saudável torna-se mais produtiva, mais alegre e, consequentemente, melhora o ambiente de trabalho. Esses três fatores já são suficientes para que os gestores entendam a importância de pensar na saúde mental da sua equipe.

 

Trabalhadores com ansiedade, depressão e estresse elevado, tendem a ficar desmotivados. A qualidade dos trabalhos feitos por eles tende a ser afetada, o relacionamento com os colegas e com os líderes também. O resultado disso é um clima organizacional ruim, uma produtividade baixa e uma diminuição no crescimento da empresa e dos profissionais.

 

Colaboradores que tem esse apoio, sentem-se valorizados e cuidados. Os funcionários que já enfrentaram algum transtorno mental, se sentem à vontade para comentar sobre a sua experiência e, assim, contribuir para quebrar o preconceito em torno dessa questão. É muito importante que sejam criadas ações para promover a saúde mental no trabalho, assim, caso algum funcionário precise de amparo, ele saberá que pode contar com a empresa.

 

Cito aqui algumas boas práticas que incentivam a saúde mental no trabalho:

 

  • Invista em benefícios para a saúde dos colaboradores – Plano de Saúde (curioso que antes da Pandemia, apesar da empresa ter Plano, não eram todos os funcionários que aderiam, pois não achavam importante – durante e após a pandemia, houve uma procura significativa – o medo de não ter tratamento / morrer, fez esse movimento). Hoje nas entrevistas que realizo, a principal pergunta sobre benefício é se a empresa tem Plano de Saúde e é um dos principais fatores de retenção de talentos.
  • Implemente um Programa de Saúde Mental – aqui tenho um exemplo próprio – vivência – em 2014 na empresa LUBRASIL implementamos o Projeto “Plantão Psicológico” – diante das demandas que estavam chegando ao RH (para ficar claro, não fazemos terapia em si – por questões éticas, é uma forma de apoio e orientação). A princípio como RH ficamos receosos, pois não sabíamos como os funcionários iriam entender e abraçar o projeto, diante de preceitos que existe sobre o tema… começou devagarinho e explodiu… e para nossa grata surpresa, a procura pelos homens, que geralmente são mais reticentes a esse tipo de trabalho. Resultado do projeto foi excelente – ajudamos muita gente – Ganho tanto para empresa como para pessoa, tudo melhora.
  • Incentivar atividades Físicas
  • Mantenha um canal ativo de FEEDBACKOs colaboradores podem não se sentir confortáveis em uma conversa aberta, mas desabafam em espaços como fóruns e canais particulares, mesmo que seja um e-mail.
  • Treine suas lideranças – Alguns erros comuns dos gestores podem comprometer a saúde mental dos trabalhadores e gerar consequências para a empresa. Isso exige o devido treinamento para as suas lideranças saberem como agir de forma a não comprometer a saúde mental de suas equipes. Além disso, esse tipo de ação precisa ser periódica. Afinal, sempre existirá a necessidade de atualizar conhecimentos e integrar novas lideranças às diretrizes abordadas até então.
  • Incentive a interação entre as equipes – Evite ao máximo aquele clima distante entre as pessoas no escritório. Afinal, uma das consequências do isolamento é prejudicar a saúde mental dos trabalhadores. Utilizar ferramentas que incentivem a interação entre eles torna-se algo essencial para o bem-estar de todos. É por isso que tantas empresas costumam ter um happy hour e demais confraternizações como parte do calendário interno. No entanto, é preciso ir além do básico e realmente ouvir suas equipes a respeito do tipo de interação que preferem.
  • Aposte na readequação do trabalho – Além de equipes unidas, uma estratégia importante de ser implementada para preservar a saúde mental no trabalho, é readequar o trabalho como um todo. Identifique os colaboradores que estão com uma carga horária elevada e sobrecarregados. Veja a possibilidade de delegar algumas responsabilidades para outros. Se for necessário, e se estiver dentro das suas possibilidades, aumente a equipe contratando novos profissionais. Trabalhadores sobrecarregados e cansados mentalmente podem levar o dobro do tempo para cumprir uma tarefa. Por esse motivo, em grande parte das vezes, é mais vantajoso para a empresa dividir o trabalho entre dois profissionais.
  • Realize eventos voltados para a saúde mental – Proponha palestras a rodas de conversas – As palestras podem ser mais abrangentes e contar com a presença de um número maior de colaboradores.

 

E como saber quando a nossa Saúde Mental não anda bem?

Nosso corpo é sábio, ele nos avisa, temos que ficar atentos aos sinais: Dores de cabeça e pelo corpo, falta de concentração, distúrbios do sono, (insônia) e irritabilidade excessiva são alguns dos indícios de que uma pessoa não está bem. Isolamento – Isolar-se de todos, evitar sair com amigos ou participar de atividades sociais não é um bom sinal. Pode estar relacionado a problemas de saúde como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, ansiedade, entre outros.. Por isso é importante o autoconhecimento.

 

Daí vêm as perguntas: E o que fazer? Como pedir ajuda?

 

Se você não está conseguindo manter uma rotina, já percebeu alguns sintomas físicos e emocionais mais persistentes e sente que o seu cotidiano está difícil de levar e nada gratificante, é hora de procurar ajuda profissional.

 

Ajuda especializada pode ser a de um psiquiatra ou de um psicólogo. A grande diferença entre os dois é que o primeiro é quem faz o diagnóstico e avalia a necessidade de iniciar o tratamento com medicação.

 

Mas os dois podem fazer parte do tratamento: eles não se anulam, mas, sim, se complementam. Qual procurar primeiro? Para superar algumas resistências, aquele com o qual você se sinta mais à vontade. Em casos moderados ou graves, a avaliação psiquiátrica é imprescindível. O psicólogo, se perceber indícios de gravidade da doença, deve encaminhar o paciente para essa avaliação.

 

Importante é deixar o preconceito de lado, isso só leva à demora na busca por ajuda. E quanto mais cedo o transtorno for diagnosticado e tratado, maiores são as chances de bons resultados.

 

Perceber que algo não está bem e buscar ajuda não é sinal de fraqueza. É, na verdade, sinal de que você tem uma boa percepção de si mesmo. Para superar esse momento, procure ajuda especializada, exatamente como você faria se estivesse com um problema no coração ou dor na coluna. A necessidade de fazer uma terapia ou de tomar uma medicação (quando necessário) não são um atestado de incapacidade. Elas apenas indicam que seu quadro tem uma solução.

 

E como manter e/ou alcançar o equilíbrio emocional? Aqui deixo algumas dicas:

 

  • Estabeleça uma rotina – E tente segui-la, com horários definidos para o sono, alimentação, trabalho e afazeres, diversão.
  • Diminua o consumo de notícias negativas – Eleja um momento do dia para se atualizar uma única vez sobre o noticiário.
  • Faça atividades físicas – A Organização Mundial da Saúde orienta 150 minutos de exercício por semana.
  • Faça atividades prazerosas – Desenvolver um hobby é fundamental (dançar, cuidar de plantas, tocar um instrumento, desenhar, fazer artesanato). Reserve um espaço para essas atividades que promovem entretenimento.
  • Cuide do sono – Defina um horário para dormir e acordar e faça disso uma rotina. A privação do sono (dormir pouco) pode desencadear e piorar transtornos mentais.
  • Cuide da alimentação – Coma para se alimentar e nutrir o corpo. Ganho de peso pode reverter de forma negativa para a sensação de bem-estar, conforto e de satisfação com a autoimagem.
  • Cuide das suas relações – Mantenha, mesmo que a distância, o contato com amigos e familiares.
  • Cuide do seu ambiente – O local em que vivemos, a casa e a vizinhança também impactam na sua saúde mental.

 

Vivian Roncon Lanzoni Menichetti é Psicóloga, Consultora Especialista em Gestão de Pessoas e Conselheira do COMESPI