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Indústria enfrenta tarifaço dos EUA, desaquecimento interno e desafios estruturais

O cenário industrial brasileiro em 2025 é marcado por fortes pressões externas e fragilidades internas, segundo a edição 39 do Boletim de Conjuntura Industrial, elaborado em parceria pela Esalq/USP e pelo Simespi, sob coordenação do professor e economista Carlos Eduardo de Freitas Vian. A decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre o aço e o alumínio brasileiros expôs a dependência do país de poucos parceiros comerciais e trouxe impactos imediatos em toda a cadeia produtiva, do fornecedor de sucata ao trabalhador da linha de montagem. O preço da sucata metálica, por exemplo, já acumula queda superior a 30% em 12 meses.

Pesquisa realizada pelo Grupo X mostra que 63% das pequenas e médias indústrias temem perda de competitividade com o tarifaço, e 82% já adotam medidas de gestão para mitigar os efeitos. Mesmo assim, 35% das exportadoras relataram queda nos pedidos desde o anúncio das tarifas, e 22% cogitam suspender temporariamente as operações voltadas ao mercado norte-americano.

No mercado interno, o quadro é de instabilidade. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,10% em junho, com recuo de 2,3% na agropecuária e de 0,1% na indústria, frustrando expectativas de leve alta. A confiança do empresário industrial também se deteriorou: em julho, o índice caiu em todas as regiões do país e em todos os portes de empresas, permanecendo abaixo dos 50 pontos que sinalizam otimismo.

A produção industrial revela um setor dividido. Bens de capital e intermediários enfrentam retração, pressionados por juros elevados, crédito restrito e incertezas globais. Já os bens de consumo duráveis ensaiam recuperação, sustentados por crédito e demanda reprimida, embora o ritmo siga vulnerável a inflação e instabilidade no emprego. No caso da siderurgia, o consumo aparente cresceu 13,4% em junho frente a 2024, mas a participação das importações saltou para 24,1%, aumentando a pressão competitiva sobre a indústria nacional.

No campo dos preços, os indicadores reforçam a falta de dinamismo. O IPP da indústria de transformação projeta deflação de 1% em 2025, enquanto o INPC deve encerrar o ano em alta de 5,2%, sinalizando ganho no poder de compra das famílias, mas não necessariamente sustentado por eficiência produtiva.

As previsões macroeconômicas também indicam cautela: o Boletim Focus de agosto reduziu a expectativa de crescimento do PIB para 2,18% em 2025 e projeta Selic em 15% até o fim do ano, com cortes apenas em 2026. No comércio exterior, a balança comercial brasileira encolheu 55,9% em julho na comparação anual, com queda das exportações (-8,49%) e avanço das importações (+1,25%).

O contraste fica por conta da inovação. O Índice de Inovação dos Estados, elaborado pela CNI e FIEC, confirma a liderança de São Paulo pelo quinto ano consecutivo e destaca o avanço do Nordeste, agora na terceira posição nacional, impulsionado por ganhos em sustentabilidade ambiental.

Apesar dos avanços pontuais, o boletim conclui que a indústria brasileira ainda carece de um projeto estratégico que a posicione no centro do desenvolvimento nacional. A dependência de mercados externos, a vulnerabilidade cambial, a baixa confiança empresarial e a pressão competitiva de importados mostram que medidas paliativas já não são suficientes. O setor pede uma política industrial robusta, que fortaleça cadeias locais e diversifique destinos comerciais para reduzir a exposição a choques globais.

 

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