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Depressão não é tudo igual: conheça os tipos menos comuns

Por Vivian Roncon Lanzoni Menichetti

 

A pandemia de covid-19 colocou em risco não só a saúde física, mas mental da população. O isolamento imposto pelas medidas para conter a propagação da doença, a crise econômica, o desemprego e a própria ansiedade em relação à contaminação são alguns fatores que colocam à prova nosso bem-estar psicológico.

Não é à toa que estudos mostram um aumento nos índices de depressão, doença que atinge mais de 320 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A depressão que impacta a maioria dos pacientes é a unipolar, também conhecida como transtorno depressivo maior. A causa mais comum é de cunho genético, mas também pode ser provocada por perdas, estresse e até problemas neurológicos.

Mas existem classes diferentes de depressão. Há três tipos menos conhecidos e comuns na população: depressão psicótica, distimia e bipolar.

Depressão bipolar: a mais difícil de ser identificada

O transtorno bipolar do tipo 1 é a forma mais clássica e é caracterizado pela euforia (mania e hipomania). Já o do tipo 2, que é a depressão bipolar, o paciente apresenta quadros de tristeza e hipomania — estado mais leve de euforia, otimismo e, às vezes, agressividade.

Um estudo publicado na revista Brasileira de Psiquiatria mostrou que, em média, leva-se oito anos para diagnosticar um paciente com depressão bipolar. A causa mais comum da depressão é de cunho genético. Outras publicações americanas já mostraram que o diagnóstico pode demorar até 15 anos.

Distimia: menos conhecida entre os próprios pacientes

O transtorno depressivo persistente ou distimia é uma depressão crônica, caracterizada por sintomas que duram por até dois anos ou mais. A causa ainda é pouco conhecida pelos médicos, mas os especialistas acreditam que seja multifatorial.

Ela é menos comum, e o próprio paciente pode não reconhecê-la por achar que os sinais estão relacionados à personalidade. É a típica pessoa que reclama toda hora, que tem uma visão pessimista das coisas e vive em uma rotina de lamentações. O que dificulta o diagnóstico é que na grande maioria dos casos, familiares e amigos acham que é o ‘jeito’ dela e que vai passar com a idade.

No entanto, os sintomas podem evoluir para uma depressão mais grave, pois o paciente demora a procurar ajuda porque acredita que não é nada e o quadro depressivo só piora.

Depressão psicótica: a forma mais grave do transtorno

Além de tristeza, o paciente sempre apresenta sintomas psicóticos como alucinações e delírios.  Considerada rara pelos médicos, a depressão do tipo psicótica é provocada por luto, traumas ou cobrança excessiva em relação a si mesmo.

A depressão também pode ser provocada por perdas, estresse e até problemas neurológicos.

Neste quadro depressivo, as chances de reações suicidas são maiores e, por isso, familiares devem ficar atentos. É necessário ter um acompanhamento médico frequente até a melhora dos sintomas.

Sintomas de depressão: por que a versão atípica da doença é tão perigosa

Chamada clinicamente de depressão atípica, ela é difícil de identificar exatamente porque os sintomas estão frequentemente mascarados por falsas demonstrações de felicidade.

Costumamos pensar que um sorriso é indicativo de felicidade, certo?

Há pessoas, entretanto, que são capazes de sorrir, viver momentos alegres e, ainda assim, nutrir sentimentos suicidas.

São aquelas afetadas pelo que se conhece popularmente como “depressão sorridente” – o termo clínico, na verdade, é depressão atípica.

Ao contrário de outros tipos de depressão, a atípica gera maior necessidade de dormir

Alguns dos sintomas, contudo, podem nos ajudar a detectar quando alguém – ou nós mesmos – está deprimido, ainda que dê mostras pontuais de felicidade.

Sintomas

Eles variam de uma pessoa para outra, mas alguns são chave:

– Uma melhora temporária do estado de ânimo – provocada, por exemplo, pela chegada de boas notícias, da mensagem de um amigo ou elogio do chefe – seguida de uma recaída;

– Aumento do apetite e ganho de peso;

– Dormir por longas horas e, ainda assim, sentir sono durante o dia (enquanto outros tipos de depressão fazem as pessoas dormirem menos);

– Sensação de torpor e peso nos braços e nas pernas em vários momentos durante o dia;

– Maior sensibilidade a críticas e rejeição, que pode afetar as relações pessoas e de trabalho.

Mais perigosa

Pessoas com ‘depressão sorridente’ geralmente conseguem manter as atividades diárias – mas essa mesma energia pode ser combustível para que levem a cabo pensamentos suicidas.

De um lado, aquele que sofre da doença atípica demora mais a procurar tratamento por não conseguir identificá-la. De outro, essas mesmas pessoas costumam ter dificuldade para reconhecer emoções. Assim, trabalhar a partir de um ponto de vista psicológico com elas é mais difícil.

Além disso, a capacidade daqueles que sofrem deste tipo de depressão de continuar realizando suas atividades pode ser contraproducente.

 

Vivian Roncon Lanzoni Menichetti é psicóloga, consultora especialista em Gestão de Pessoas, conselheira do SIMESPI/COMESPI