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Geração nem-nem-nem contribui para  alteração dos índices de desemprego

Os números são assustadores. O Brasil acumula 7,334 milhões jovens que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a chamada Geração nem-nem-nem. Daí a queda da taxa de desemprego no País. Os índices são ilusórios e confundem a maioria dos leitores, que não analisa o contexto e pensa que nossa situação está melhorando. Acreditem, não está.

 

Mesmo com desaceleração da economia no ano passado, os números do IBGE mostram que a taxa média de desemprego no Brasil recuou para 6,8%, pouco abaixo dos 7,1% de 2013 e dos 7,4% de 2012. Apesar de animador, esse resultado estável foi conquistado principalmente pela redução na busca por emprego.

 

Um estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) em 3.500 municípios brasileiros mostrou que a Geração nem-nem-nem está crescendo exponencialmente. Em 2013, um em cada cinco jovens brasileiros não trabalhava nem estudava. São 20,3% de todos os rapazes e moças do país não fazendo nada. No último trimestre, o percentual desse grupo subiu para 38,9% e chegou a atingir 39,1% no ano passado.

 

Outro fator que interfere bastante na correta leitura dos dados é a entrada tardia dos jovens no mercado de trabalho. Antigamente, nós saíamos da escola, do ensino médio, e já procurávamos um emprego. Hoje, eles permanecem mais tempo estudando, nas universidades e cursos profissionalizantes, e demoram para procurar trabalho. Durante esse tempo, não são somados aos índices de desemprego, que acabam caindo.

Também não podemos deixar de lembrar do seguro-desemprego, que interfere bastante na queda das taxas. Não se pode negar que, nos últimos anos, houve um crescimento exponencial no número de pedidos do benefício. Afinal, todo mundo prefere pendurar-se no seguro ao invés de aventurar-se na busca por novas oportunidades. Assim, essa parcela também contribui para a aparente queda do desemprego. 

 

Hoje, estar inserido no nosso mercado de trabalho altamente competitivo pode ser comparado a subir uma escada rolante que está descendo. Se ficar parado, você vai para trás. Mesmo se andar devagar, vai continuar no mesmo lugar. Os profissionais têm que se esforçar, sempre estar se atualizando e potencializando seus conhecimentos para conseguir subir a escada. Neste contexto, onde se encaixam estes rapazes e moças da Geração nem-nem-nem? É difícil imaginar o futuro deles. Ou mais: é temível, assim como tentar entender como será o amanhã da economia, se continuarmos neste pé.

 

Como representante do setor industrial, responsável hoje por 16% do PIB, sinto que é meu dever alertar os leitores: devido à recessão, o número de criação de novas vagas está caindo, o que acentuará ainda mais a crise. Ao compararmos o quarto trimestre de 2013 com o de 2014, percebemos que o crescimento de vagas não conseguiu absorver a demanda de trabalhadores e o número de desocupados subiu para 6,6%. Mesmo os dados ilusórios mostraram que a desocupação aumentou em 400 mil desempregados. Não precisamos ter bola de cristal para saber que, com o enfraquecimento da indústria e a queda na produção, os outros setores da economia serão puxados para baixo. Deixo aqui o meu aviso, devemos nos preparar para um grande problema no futuro. 

 

José de Jesus Vaz é diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simespi) e sócio-proprietário da Stap Metalúrgica.

 

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